terça-feira, 4 de outubro de 2011

ACV, você ainda vai querer ter um.

Você sabia que são necessárias 3 toneladas de água para se fabricar inocentes 120 Kg de clips ? Este dado isolado é apenas um dos itens que compõem o estudo de impacto ambiental de um produto, de sua fabricação à comercialização. O trabalho é mais comumente conhecido por ACV – Avaliação do Ciclo de Vida reunindo metodologia de cálculos que nos levam a boas e importantes descobertas.

A propósito, “Avaliação do Ciclo de Vida - Ações e Perspectivas” foi tema de workshop interno do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para o qual este jornalista foi especialmente convidado nesta semana que passou. De acordo com a pesquisadora Cláudia Echevenga Teixeira, coordenadora do workshop, o IPT (órgão atrelado ao governo paulista) na condição de “agente de tecnologia de inovação posiciona-se adequadamente na questão da sustentabilidade” e a tendência é investir fortemente nesta área, com vistas ao desenvolvimento de novas tecnologias e no avanço de parcerias com a iniciativa privada.

Visitas de pesquisadores das universidades alemãs de Stuttgart e de Berlin, recentemente, são parte desta nova estratégia que, entre outras ações, traz a inserção do instituto em Avaliações de Ciclo de Vida de produtos (aqui “produtos” são manufaturados ou serviços). Na prática, Cláudia Teixeira, Oswaldo Sanchez Jr., Rachel Horta Arduin, Ana Carolina Cunha, Edna Gubitoso e Sérgio Ângulo são um time de profissionais focados em ACV, espalhados pelos diversos Laboratórios da casa, como o CETAE-Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas, o CETIM (da área têxtil), o GGT (Gerência de Gestão Tecnológica) e mais um série de siglas como Cinteq, CT-Obras etc que identificam áreas internas de trabalho e pesquisas.

ECODESIGN
Oswaldo Sanchez e Rachel Arduin apresentaram trabalhos e dividiram as 4 horas de workshop com Cláudia Teixeira, apresentando ACVs e comentando a estruturação desses trabalhos.

A expressão ECODESIGN foi colocada para os 30 participantes do evento, sendo definida como o modus que prima por um técnica que minimiza os impactos ambientais de um produto. “Entre 60% e 80% dos impactos ambientais de um produto são definidos na fase inicial do processo de desenvolvimento”, explicou a professora Cláudia.

HISTÓRICO
Em uma rápida exposição tempo/espaço, o workshop destacou a evolução dos conceitos e práticas sustentáveis. Em síntese foi apresentado o seguinte:
Anos 1950/1960 – Desenvolvimento econômico sem controle algum.
1970 / 1980 – Surge aqui o licenciamento ambiental e junto com ele, o conceito de impacto ambiental. No final dos anos 1980 também aparece a responsabilidade Empresarial mas de forma isolada.
1990 - Nasce a idéia do Ciclo de Vida.
2000 – Vem a gestão do ciclo de vida, com a promulgação da Lei 12.305 (de agosto de 2010) que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Na opinião dos organizadores do workshop, “as políticas públicas é que vão fechar o ciclo virtuoso”, através da gestão compartilhada, “definindo-se aonde começa e termina a responsabilidade de cada um”.

REGRAS DE OURO
“Ainda falta combinar com os russos” - diz uma antiga piada do futebol brasileiro (atribuída a Garrincha enquanto o técnico da seleção de 1958 rabiscava uma lousa e mostrava como era fácil driblar os adversários e ganhar o jogo).

Os pesquisadores já definiram as chamadas 10 Regras de Ouro para os empresários seguirem, com vistas a migrarmos para uma economia mais equilibrada. São elas as seguintes:
1 - TOXICIDADE – Fabricantes devem evitar materiais tóxicos na composição de seus produtos;
2 - ECONOMIA – Analisar, sempre, a economia que se pode fazer em materiais e energia;
3 – MASSA – Quanto menor a massa, mais leve será o produto e, consequentemente, mais econômico.
4 – ENERGIA – Análise de processos com vistas ao uso de energias alternativas;
5 – ATUALIZAÇÕES – Produtos e serviços necessitam de atualizações permanentes;
6 – VIDA ÚTIL – Ideal é que o produto tenha sempre uma vida útil longa, tornando-o mais sustentável;
7 – PROTEÇÃO – É preciso cuidar da proteção de superfície, a fim de evitar corrosão;
8 – INFORMAÇÃO – Identificar peças e/ou conjuntos de peças para a facilitação de seu desmonte;
9 – REDUZIR MISTURAS – Deve-se buscar a máxima redução de misturas de materiais em uma mesma peça;
10 – DESMONTAGEM – Facilitar o processo de fabricação, a fim de proporcionar fácil desmontagem.

Ao final deste encontro , pesquisadores apresentaram quatro cases de ACVs e comentaram a legislação, ora simplificada. Atualmente, as normas ISSO 14.044 e a 14.040 (ambas de 2009) incorporam os textos sobre gestão ambiental, caducando as normas ABNT 14.041, 14.042 e 14.043 , de 2004.

O CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, que visa impedir propagandas enganosas ou abusivas, baixou norma no mês passado dizendo que as informações ambientais devem ser verdadeiras e passíveis de verificação e comprovação. Trata-se, portanto, de mais um avanço em prol da sustentabilidade e um golpe forte no modismo e enganação.

(Nelson Tucci, de São Paulo)

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